Conheça Sigmund Freud, pai da Psicanálise
- Dayanne de Souza
- 13 de dez. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 20 de jan.
A história de Freud
Freud foi um homem controverso, com uma mente aguçada, à frente do seu tempo. Sua história de vida e suas ideias causaram em muitos uma forte impressão a ponto de querer mergulhar no universo complexo da Psicanálise. Por isso, julgo interessante trazer um pouco da história e seus feitos.
Um homem como eu não pode viver sem uma mania. Uma paixão devoradora, um talento. "Eu descobri meu talento e é o trabalho." Eu não tenho limites. Meu talento é a psicologia.”
Esse talentoso médico, através de suas manias e seu trabalho, mudou a forma de pensar a sexualidade, o modo de analisar os sonhos, desenvolveu uma forma de acessar conteúdos inconscientes, elaborou uma técnica terapêutica e criou muitas teorias psicanalistas que ajudaram, e ajudam até hoje, muitas pessoas.

Sigmund Scholomo Freud teve uma vida cheia de feitos. Nascido dia seis de maio de 1856, na Morávia, era uma criança estudiosa. Aprendeu várias línguas sozinho, e aos doze anos era fluente em seis idiomas. Com dezessete anos, entrou para a Faculdade de Medicina de Viena, onde se formou e começou a trabalhar com neuropatologia e neurologia.
Fez diversas pesquisas, iniciou os estudos com a cocaína e teorizou que ela poderia complementar o tratamento terapêutico. Cabe lembrar que nessa época a cocaína era considerada um fármaco, muitos médicos prescreviam cocaína para casos difíceis de tratar. Tentaram empregar a cocaína como um substituto da morfina. Freud fazia uso de 200 mg por dia e prescrevia para algumas pessoas próximas, entre elas sua noiva Martha Bernays e seu amigo Ernst Von Fleisch-Marxow, que era viciado em morfina. Contudo, o tratamento de Ernst não terminou bem, ele se viciou também em cocaína e teve uma overdose. Com o acontecido, Freud ficou seriamente abalado e abandonou a pesquisa diante da descoberta do potencial de criar dependência da cocaína. O mais impressionante é o fato de ter usado a droga por mais de 8 anos e não ter se viciado. Especialistas dizem que Freud já tinha um vício, o trabalho.
Foi por acaso que Freud escolheu a área das doenças nervosas. O critério de escolha se deve ao fato de ser uma área pouco estudada. “A doença mental era um campo atrasado na medicina do século XIX, não se conhecia muito sobre a doença nem tratamento.” Em 1885, Freud começa a trabalhar no Hospital Geral de Viena e ganha uma bolsa de estudo para conhecer as ideias de Jean Charcot, um neurologista que hipnotizava mulheres com histeria. Durante as sessões de hipnose, Charcot descobriu que os sintomas desapareciam, ou seja, os problemas psíquicos não adivinhavam, somente, de traumas físicos, como danos em nervos e lesões cerebrais. O problema não era orgânico, como acreditavam os médicos da época, e sim psicológico.
O contato com as ideias de Charcot inspirou Freud a desenvolver a teoria do inconsciente. Com isso, ele abriu seu próprio consultório e começou a tratar pacientes histéricos com sugestões hipnóticas, esperando chegar ao que chamava de segunda mente, o inconsciente. Com o passar dos anos, percebeu que grande parte dos sintomas das mais variadas doenças tinha como origem a sexualidade, ou eram resultados de censuras ou repressão de desejos experimentados durante a primeira infância. Sexualidade para Freud não tem relação com genital ou com o ato de fazer sexo, para ele, o sexual estava ligado aos sentidos, que são a nossa forma de experienciar o mundo, logo, entender essa sexualidade é compreender nosso funcionamento, o modo como lidamos com as questões que nos rodeiam.
Ao longo dos anos, atendendo diversos pacientes em seu consultório e trabalhando com um amigo, o Dr. Joseph Breuer, Freud, desenvolve gradualmente técnicas terapêuticas de livre associação, o método catártico e a sua “cura pela palavra”. No livro Cinco Lições de Psicanálise (1910), Freud conta, em uma conferência nas universidades dos Estados Unidos, detalhes do tratamento de uma paciente, que tinha em comum com o Dr. Breuer, conhecida como Anna O. A paciente sofria de uma série de perturbações como paralisia parcial, dificuldade de manter a cabeça erguida, tosse nervosa, repugnância a alimentos e à água, confusão, delírio, alteração de personalidade e dificuldade de entender e falar a língua materna. Freud relata que os sintomas foram aparecendo durante o período em que o pai da paciente ficou acamado. Contudo, o mais interessante é o modo como a doença foi se agravando, a paciente associava situações comuns do dia a dia com falhas graves de sua parte e supressão dos sentimentos. Alguns exemplos são: A hidrofobia, devido a uma cena que a paciente presenciou onde o cachorro da dama de companhia bebia água diretamente do copo. Por respeito, a dama não disse nada, reprimiu a repulsa e nojo, mas tomou aversão à água. A perturbação visual, que advém do fato de uma vez estar com os olhos marejados, por causa da doença do pai, não conseguiu ver as horas. Enfim, podemos sintetizar que os sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências traumáticas, sejam reais ou não.

A história de Anna O contribuiu muito para o amadurecimento do método psicanalítico de Freud. Em seu consultório na rua Berggasse 19, ele tratou diversos pacientes e não só descobriu, como demonstrou que o homem não é apenas um ser racional, há impulsos que se manifestam e alguns deles estão em conflito com as regras da sociedade. Esses impulsos são capazes de trazer à tona necessidades básicas, e reprimidas, do ser humano, como o instinto sexual. Comparando a mente com o iceberg, Freud diz que 90% da mente é o inconsciente, algo que está abaixo da superfície, e apenas 10% é o consciente. Sua célebre frase “o EU não sou senhor na própria casa” demonstra que há uma parte que não temos acesso ou controle, e isso causou um abalo no que os teóricos da época acreditavam saber a respeito do homem.
Além disso, Freud desenvolve a teoria de que a consciência humana se subdivide em três partes, que ele chama Id, Ego e Superego. Onde o Id (ISSO) é o reservatório inconsciente das pulsões, regido pelo prazer, sendo uma parte primitiva do humano. O Superego (SUPEREU), parcialmente consciente, é onde residem nossos sentimentos de culpa e medo, e se desenvolve a partir dos costumes, leis e da moral da sociedade. E por fim, o Ego (EU), parte consciente, equilibra dentro de nossa mente o que desejamos (Id) e o que somos barrados (Superego), pois para viver em sociedade é necessário abrir mão de certas vontades, por respeito ao outro, à justiça e à ética. O adoecimento acontece quando há um desequilíbrio entre os três.
A interpretação dos sonhos, outro grande feito, se intensificou em 1896, após a morte do pai de Freud, Jacob. Diante dessa perda, e com as emoções em conflito, ele resolve se analisar. E faz descobertas impressionantes, como a atração que sentia por sua mãe e a hostilidade que tinha por seu pai na infância. A partir das descobertas com a autoanálise, que durou 4 anos, Freud não só curou sua fobia de viajar, como concebeu a ideia de sexualidade infantil e o complexo de Édipo. Em 1900, publica o livro “A Interpretação dos Sonhos”, nesse livro ela demonstra que o sonho não é um presságio, como visto em épocas antigas, mas sim uma importante ferramenta para acessar os conteúdos do inconsciente.

Infelizmente, o lançamento do livro dos sonhos foi um fracasso, porém ele continuou trabalhando. Nos anos seguintes, publica diversos livros como Introdução ao Narcisismo (1914) e Além do Princípio do Prazer (1920). Mas, o antissemitismo inflamado por Hitler faz com que Freud corra perigo. Mesmo protegido por amigos poderosos e influentes na sociedade, teve seu consultório saqueado e membros da família presos por soldados da Gestapo. Um deles foi Anna, sua filha mais nova. Diante da ameaça, Freud concorda em partir para Paris e, com a ajuda de Maria Bonaparte, vai para Londres, onde se instala até sua morte. Em meados de junho de 1939, o tumor canceroso na boca voltou e se tornou inoperável. Sofrendo de dores intensas, dia 23 de setembro de 1939, Freud afirma que havia chegado a hora, e naquela noite morre de uma dose letal de morfina aplicada pelo Dr. Max Schur.
O arqueólogo da mente, como costumava se denominar, deixou para o mundo grandes ensinamentos e um método de estudar o inconsciente. Não é à toa que suas ideias são debatidas e admiradas até hoje por estudantes, professores, autores e intelectuais.
Fontes:
LIMA, Luiz Tenório Oliveira. Freud. 2ª ed. São Paulo: Publifolha. 2009.
Edição Stantard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume XI. Editora Imago.
Documentario: Freud – Análise de uma mente. https://www.youtube.com/watch?v=-op3s6s-yw4
Filme: Um Método Perigoso. 2011. Direção: David Cronenberg.
WERTHEIMER, Michael. Pequena história da Psicologia. 4ª ed. São Paulo: Ed. Nacional. 1978.